Um país próspero
”Ficou ontem a saber-se, pelo "Times", que Portugal é um dos 20 países mais "estáveis e prósperos" do Mundo. O jornal cita um estudo da Jane's Information Services realizado ao longo de um ano em 235 países e territórios, que põe Portugal, no que toca a "estabilidade e prosperidade", acima da Noruega, França, Canadá, EUA, Japão, Espanha e Itália, e até da famosa Finlândia. O estudo levou em conta as estruturas políticas, tendências sociais e económicas, riscos militares e de segurança e relações externas de cada país. Vaticano, Suécia, Luxemburgo, Mónaco, Gibraltar, S. Marino, Liechtenstein, Inglaterra, Holanda e Irlanda são o "top ten" da "estabilidade e da prosperidade"; Gaza/Cisjordânia, Somália e Sudão os lugares menos "estáveis e prósperos" do Mundo. Portugal está em 18.º lugar, logo após a Suíça. No mesmo dia em que foi divulgado que milhares de famílias portuguesas deixaram, em virtude do desemprego e da deterioração das condições de trabalho, de poder pagar as suas dívidas, que o crédito malparado subiu a um ritmo de 2,2 milhões de euros por dia no mês de Janeiro (mais 70 milhões de euros do que em Dezembro) e que o endividamento das empresas cresce exponencialmente, é reconfortante descobrir num jornal inglês que somos afinal um país próspero.”
Manuel António Pina
in JN – 2008/03/26
Somos uns chorões, é o que somos…
PS.: Neste momento estamos novamente a perder com a Grécia. E o IVA vai baixar 1%. Habituem-se!
A ESCRITA
a escrita é a minha primeira morada de silêncio
a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras
extensas praias vazias onde o mar nunca chegou
deserto onde os dedos murmuram o último crime
escrever-te continuamente... areia e mais areia
construindo no sangue altíssimas paredes de nada
esta paixão pelos objectos que guardaste
esta pele-memória exalando não sei que desastre
a língua de limos
espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos
as manhãs chegavam como um gemido estelar
e eu perseguia teu rasto de esperma à beira-mar
outros corpos de salsugem atravessam o silêncio
desta morada erguida na precária saliva do crepúsculo
HOJE É DIA
hoje é dia de coisas simples
(Ai de mim! Que desgraça!
O creme da terra não voltará a aparecer!)
coisas simples como ir contigo ao restaurante
ler o horóscopo e os pequenos escândalos
folhear revistas pornográficas e
demorarmo-nos dentro da banheira
na aldeia pouco há a fazer
falaremos do tempo com os olhos presos dentro das chávenas
inventaremos palavras cruzadas na areia... jogos
e murmúrios de dedos por baixo da mesa
beberemos café
sorriremos às pessoas e às coisas
caminharemos lado a lado os ombros tocando-se
(se estivesses aqui!)
em silêncio olharíamos a foz do rio
e o brincar agitado do sol nas mãos das crianças descalças
hoje
É NO SILÊNCIO
é no silêncio
que melhor ludribio a morte
não
já não me prendo a nada
mantenho-me suspenso neste fim de século
reaprendo os dias para a eternidade
porque onde termina o corpo deve começar outra coisa outro corpo
ouço o rumor do vento
vai
alma vai
até onde quiseres ir
MUDANÇA DE ESTAÇÃO
para te manteres vivo - todas as manhãs
arrumas a casa sacodes tapetes limpas o pó e
o mesmo fazes com a alma - puxas-lhe o brilho
regas o coração e o grande feto verde-granulado
deixas o verão deslizar de mansinho
para o cobre luminoso do outono e
às primeiras chuvadas recomeças a escrever
como se em ti fertilizasses uma terra generosa
cansada de pousio - uma terra
necessitada de águas de sons afectos para
intensificar o esplendor do teu firmamento
passa um bando de andorinhas rente à janela
sobrevoam o rosto que surge do mar - crepúsculo
donde se soltaram as abelhas incompreensíveis
da memória
luzeiros marinhos sobre a pele - peixes
que se enforcam com a corda de noctilucos
estendida nesta mudança de estação
amor não sentimento não ternura
não desejo não sexo não amor
amor nada concreto não os olhos
preso nunca no peito não por certo
amor fascínio fuga sal sedento
não ângulo não vértice de vidro
não as ruas desertas pensamento
amor não sentimento não sentido
não amor não entrega nunca posse
a fuga porque não nada fragmento
não amor por amor nunca deserto
amor não violento não de vento
não amor desejado mão de invento
amor sempre de não de tempo a tempo
Diz-me o teu nome - agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão
com os teus dedos - como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,
como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro - assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o
nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.
Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim.
São tantos
os silêncios da fala
De sede
De saliva
De suor
Silêncios de silex
no corpo do silêncio
Silêncios de vento
de mar
e de torpor
De amor
Depois, há as jarras
com rosas de silêncio
Os gemidos
nas camas
As ancas
O sabor
O silêncio que posto
em cima do silêncio
usurpa do silêncio o seu magro labor.
Maria Tereza Horta
Em Nambuangongo tu não viste nada
não viste nada nesse dia longo longo
a cabeça cortada
e a flor bombardeada
não tu não viste nada
...
Falavas
em cada homem um morto que não morre.
Sim nós sabemos Hiroxima é triste
mas ouve em Nambuangongo existe
em cada homem um rio que não corre.
Manuel Alegre
bailarinos: Ma Li e Zhai Xiaowei
coreografia: Zhao Limin
ASSOCIAÇÃO ABRIL convida para o lançamento do livro de Homenagem a Maria de Lourdes Pintasilgo : "Uma FLOR por Maria de Lourdes Pintasilgo", que se irá realizar no dia 07 de Março, pelas 18.30h, na Livraria da Assembleia da República.
A sessão será apresentada pelo jornalista Adelino Gomes e contará com os músicos Manuel Freire, Luanda Cozetti e Norton Daiello.
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