«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»
José Saramago
Cadernos de Lanzarote - Diário III - pag. 148
Vou votar no PS. O que não será grande novidade para quem lê regularmente esta coluna de opinião.
Em certos países quem escreve e opina ou até os próprios meios de comunicação fazem este tipo de declaração. É mais honesto e transparente. Por cá prefere-se o falso independente.
A minha escolha é convicta e assenta em razões bem ponderadas. Não sou militante de nenhum partido, não tenho cargos nem benesses a defender, nunca recebi um subsídio do governo. No essencial sou anarquista. Não gosto do Estado, nem da autoridade. Gosto da liberdade. Gosto da iniciativa dos indivíduos, da sua criatividade e ambição.
Entendo a necessidade de um Estado Social que proteja os mais fracos, mas esse não é para mim um assunto determinante. Parece-me aliás excessivo o tempo e espaço que esta temática tem ocupado a campanha. E afigura-se também pouco racional do ponto de vista eleitoral. Faz algum sentido ver três partidos, PC, Bloco e CDS, disputarem tanto o voto dos dois milhões de pobres que existem em Portugal? Ainda mais sabendo-se que parte significativa deles não vê debates na televisão, não lê jornais e muito menos vai a comícios?
Julgo que é uma coisa de tipo religioso. Estes partidos querem demonstrar que são os que melhor cuidam dos pobrezinhos, talvez na esperança de que essa vocação caritativa conquiste alguns votos na classe média. Não é uma boa ideia. Seria melhor falar diretamente para os oito milhões que não são pobres e que têm os seus problemas e expectativas, sobretudo em tempo de crise económica.
O mundo tem sofrido mudanças velozes e radicais. As novas tecnologias têm vindo a alterar modos de fazer, profissões e projetos empresariais. O obsoletismo impera. As falências afetam todos aqueles que não se modernizam. O analfabetismo tecnológico incapacita e atira para o desemprego multidões de inadaptados.
A solução não está definitivamente no assistencialismo social. Mais do que subsidiar é preciso investir na educação e nas competências. E isso consegue-se com uma escola pública moderna e com programas como o das Novas Oportunidades.
A educação continuada ao longo da vida, de toda a população, é aliás a única maneira de se ganhar competitividade num mundo globalizado. Só o conhecimento, a criatividade e a inovação podem permitir o crescimento económico e com este menos desemprego e menos miséria.
O PS é o único partido que afirma, com convicção e determinação, esta visão. Nunca vi o PSD fazê-lo e, pelo contrário, são muitos os sinais de desprezo pela educação e pelo conhecimento. Temo que um governo de direita possa travar a evolução muito positiva de Portugal na ciência e na inovação. Pode dizer-se todo o mal do ainda atual governo. Pode mesmo odiar-se Sócrates. Mas ninguém de boa-fé pode deixar de reconhecer que o nosso país deu saltos muito significativos nalguns dos domínios mais competitivos do mundo de hoje. Aliás, o sucesso do setor exportador é consequência direta das políticas seguidas na última década. Da investigação científica às energias renováveis, da modernização da Administração Pública à criatividade e ao design, são muitos os exemplos de um aumento importante na qualidade do que é feito e produzido em Portugal.
A razão do meu voto é pois esta, e praticamente só esta. Gostaria de ver o meu país continuar numa linha de forte e acelerado desenvolvimento científico, tecnológico e criativo. Na minha perspetiva, tudo o resto é secundário. As historietas diárias montadas pela direita; as propostas irrealistas da esquerda radical; o discurso dos economistas que olham demasiado para os números e nada para a realidade evolutiva do mundo; os comentários agressivos e irracionais; tudo me parece irrelevante e lateral.
Neste momento de enorme barafunda e de tanta falsa e ilusória saída para a crise é preciso ir direito ao assunto. Escolher em função daquilo que realmente é determinante para o nosso futuro coletivo e deixarmos de perder tempo com o ruído próprio de uma campanha, como todas, sempre pouco esclarecedora e muita geradora de confusão mental. Um pouco mais de lucidez não fica mal a ninguém.
Leonel Moura
in Jornal de Negócios
» Nós também somos da esque...
» JOSÉ SÓCRATES EM ARRUADA ...
» ...
» ...
» ...
» ...
» ...
» ...
» ...
» Aldeia
» Arrastão
» Associação Desenv Integrado Valbom
» Citador
» DesNORTE
» Indeks
» Moriana
» Murcon
» Odisseus
» Poemar
» Pópulo
» Só Maria