Realiza-se hoje, dia 29 de Fevereiro 2008, pelas 21h30m, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de Fânzeres, a cerimónia de lançamento do livro “Vago - o olhar” da poetisa Marta Dutra, vencedora da XVII edição do Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres.
Sei um ninho
Mas escusas de me tentar:
Miguel Torga
clicar foto Página Especial
Muito Obrigado, Amiga Delta pela partilha.
A formiga no carreiro
Vinha em sentido contrário
Caiu ao Tejo
Ao pé dum septuagenário
Larpou trepou às tábuas
Que flutuavam nas àguas
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
A formiga no carreiro
Vinha em sentido diferente
Caiu à rua
No meio de toda a gente
Buliu abriu as gâmbias
Para trepar às varandas
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
A formiga no carreiro
Andava a roda da vida
Caiu
Duma
Furou furou à brava
Numa cova que ali estava
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
Tinha o seu nome no registo E, para além, dos momentos de filosofia barata, Do “penso, logo existo”, do “sei que nada sei”, Tinha uma fome sem remédio a que chamava poesia. Ao seu olhar, tudo tinha um certo espírito secreto Que ninguém entendia, ou não queria !... Tinha um incógnito rosto E, um gosto absurdo de sofrer, a dor própria e a alheia, E, um certo cansaço de ver A mesma aranha tecer a mesma teia. Era, tal como os mais, Dono de tudo sem querer nada. Raramente lia os jornais E, acerca dele, a impressão dos outros pouco importava !... O outro que era, ... O outro ? Que outro ?! Sou eu ! Manuel M. Oliveira
Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.
Eugénio de Andrade
Trouxeste os sonhos, a planura do ventre,
as madrugadas dos pomares.
E enquanto atravesso o itinerário das palavras,
a maciez diáfana dos teus olhos invade-me a alma,
Repenso o silêncio azulado do espanto
que amacia a rebentação das glicínias.
Lá onde moram os pinheiros mansos
e recebemos a inquietação, o tempo permanece insubmisso:
eu estarei um dia, com o meu corpo,
até à fundura íntima do infinito.
José Manuel Teixeira
in “RIOS DO INTERIOR”, obra vencedora do
XVI Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres
Um pouco mais
e veremos florescer as amendoeiras
os mármores brilharem ao sol
o mar a ondear
um pouco mais
para nos levantarmos um pouco mais alto.
Yorgos Seferis (Γιώργος Σεφέρης)
poeta grego (1900-1971)
PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA DE 1963
Contribuo
com o que posso
para
a lixeira cultural
não é muito eu sei
outros dão muito mais
eu não passo de um amador
enfim
o importante
é cada um dar o seu melhor
como dizem os irresponsáveis
Alberto Pimenta
O oceano separou-se de mim
enquanto me fui esquecendo nos séculos
e eis-me presente
reunindo em mim o espaço
condensando o tempo.
Na minha história
existe o paradoxo do homem disperso
Enquanto o sorriso brilhava
no canto de dor
e as mãos construíam mundos maravilhosos
john foi linchado
o irmão chicoteado nas costas nuas
a mulher amordaçada
e o filho continuou ignorante
E do drama intenso
duma vida imensa e útil
resultou a certeza
As minhas mãos colocaram pedras
nos alicerces do mundo
mereço o meu pedaço de chão.
Agostinho Neto
Sessão de apresentação do livro de poemas:
Ela Nasce, da jovem poetisa, Zana (Susana Castro)
Auditório Municipal de Gondomar
"Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavra, sem vergonha, sem carácter (...). Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo (…). Dois partidos (...) sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...), análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no Parlamento, de não caberem todos de uma vez na mesma sala de jantar (...)". Isto foi escrito há 100 anos por Guerra Junqueiro, estrebuchava a Monarquia (que, a pretexto do regicídio, alguns patuscos de "blaser" e emblema da Causa Monárquica na lapela nos têm recentemente tentado vender como um eldorado perdido) nos últimos estertores. Porque o chapéu assenta singularmente no clima social e político finissecular que de novo vivemos, "Pátria" deve ser hoje o livro mais citado na blogosfera portuguesa, onde, expulsa dos media tradicionais, se exila grande parte da massa crítica que, entre nós, ainda mexe. É um sinal, o sintoma de uma doença. Até generais já andam por aí a assumir-se publicamente como "reservas morais" da nação. Quando a "reserva moral" já está na tropa, há boas razões de sobressalto cívico.
Manuel António Pina
in JN – 2008/02/14
Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor
Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana
Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração
e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
Embora subterrâneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo
Um homem uma mulher um cartaz de denúncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV denúncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura as dois amantes nos becos e avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta
fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia
…
Importa descobri-los onde quer que se escondam
antes que seja demasiado tarde
e o amor como um rio inunde as alamedas
praças becos calçadas quebrando nas esquinas
…
( Mas um grito de esperança inconsequente vem
do fundo da noite envolver a cidade
au bout du chagrin une fenêtre ouverte
une fenêtre eclairée )
DANIEL FILIPE
Poema dito por João Manuel Alves
Música de Pedro Abrunhosa – “Lua”
part I
part II
Coreografia: Maurice Béjart
Bailarinos: Elisabeth Ros e Octavio Stanley
“Les Uns et les Autres” de Claude Lelouch
Coreografia: Maurice Béjart
Bailarino: Jorge Donn
Simplesmente, magnífico!
Modo de amar – I
Lambe-me as seios
desmancha-me a loucura
usa-me as coxas
devasta-me o umbigo
abre-me as pernas
põe-nas nos teus ombros
e lentamente faz o que te digo:
Modo de amar – II
Por-me-ás de borco,
assim inclinada...
a nuca a descoberto,
o corpo em movimento...
a testa a tocar
a almofada,
que os cabelos afloram,
tempo a tempo...
Por-me-ás de borco;
Digo:
ajoelhada...
as pernas longas
firmadas no lençol...
e não há nada, meu amor,
já nada, que não façamos como quem consome...
(Por-me-ás de borco,
assim inclinada...
os meus seios pendentes
nas tuas mãos fechadas.)
Modo de amar – III
É bom nadar assim
em cima do teu corpo
enquanto tu mergulhas já dentro do meu
Ambos piscinas que a nado atravessamos
de costas tu meu amor
de bruços eu
Modo de amar – IV
Encostada de costas
ao teu peito
em leque as pernas
abertas
o ventre inclinado
ambos de pé
formando lentos gestos
as sombras brandas
tombadas no soalho
Modo de amar – V
Docemente amor
ainda docemente
o tacto é pouco
e curvo sob os lábios
e se um anel no corpo
é saliente
digamos que é da pedra
em que se rasga
opala enorme
e morna
tão fremente
dália suposta
sob o calor da carne
lábios cedidos
de pétalas dormentes
Louca ametista
com odores de tarde
Avidamente amor
com desespero e calma
as mãos subindo
pela cintura dada
aos dedos puros
numa aridez de praia
que a curvam loucos até ao chão da sala
Ferozmente amor
com torpidez e raiva
as ancas descendo como cabras
tão estreitas e duras
que desarmam
a tepidez das minhas
que se abrem
E logo os ombros
descaem
e os cabelos
desfalecem as coxas que retomam
das tuas
o pecado
e o vencê-lo
em cada movimento em que se domam
Suavemente amor
agora velozmente
os rins suspensos
os pulsos
e as espáduas
o ventre erecto
enquanto vai crescendo
planta viva entre as minhas nádegas
Modo de amar – Vl
Inclina os ombros
e deixa
que as minhas mãos avancem
na branda madeira
Na densa madeixa do teu ventre.
Deixa
que te entreabra as pernas
docemente
Modo de amar – VII
Secreto o nó na curva
do meu espasmo
E o cume mais claro
dos joelhos
que desdobrados jorram dos espelhos
ou dos teus ombros os meus:
flancos
na luz de Maio
Modo de amar – VIII
Que macias as pernas
na penumbra
e as ancas
subidas
nos dedos que as desviam
Entreabro devagar
a fenda – o fundo
a febre
dos meus lábios
e a tua língua
Vagarosa:
toma – morde
lambe
essa humidade esguia
Modo de amar – IX
Enlaçam as pernas
as pernas
e as ancas
o ar estagnado
que se estende
no quarto
As pernas que se deitam
ao comprido
sob as pernas
E sobre as pernas vencem o gemido
Flor nascida no vagar do quarto
Modo de amar – X
A praia da memória
a sulcos feita
a partir da cintura:
a boca
os ombros
na tua mansa língua que caminha
a abrir-me devagar
a pouco e pouco
Globo onde a sede
se eterniza
Piscina onde o tempo se desmancha
a anca repousada
que inclinas
as pernas retezadas que levantas
E logo
são os dentes que limitam
mas logo
estão os labios que adormentam
no quente retomar de uma saliva
que me penetra em vácuo
até ao ventre
o vínculo do vento
a vastidão do tempo
o vício dos dedos
no cabelo
E o rigor dos corpos
que já esquece
na mais lenta maneira de vencê-los
Modo de amar – XI
((Teu) Baixo ventre)
Nunca adormece a boca no
teu peito
a minha boca no teu baixo
ventre
a beber devagar o que é
desfeito
Modo de amar – XII
(Os testiculos)
Tenho nas mãos
teus testiculos
e a boca já tão perto
que deles te sinto
o vício
num gosto de vinho aberto
Modo de amar – XIII
(As pedras – As pernas)
São as pedras
meus seios
São as pernas
pele e brandura
no interior dos
lábios
rosa de leite
que sobe devagar
na doce pedra
do muco dos meus lábios
São as pedras
meus seios
São as pernas
Pêssegos nus corpo
descascados
Saliva acesa
que a língua vai cedendo
o gozo em cima...
na pedra dos meus
lábios
Jogo do corpo
a roçar o tempo
que já passado só se de memória,
a mão dolente
como quem masturba entre os joelhos...
uma longa história...
Estrada ocupada
onde se vislumbra
(joelhos desviados na almofada )
assim aberta o fim de que desfruta
o fruto do odor
o fundo todo
do corpo já fechado.
Modo de amar – XIV
(As rosas nos joelhos)
São grinaldas de rosas
à roda
dos joelhos
O âmbar dos teus dentes
nos sentidos
O templo da boca
no côncavo do espelho
onde o meu corpo espia
os teus gemidos
É o gomo depois...
e em seguida a polpa...
o penetrar do dedo...
O punho do punhal
que na carne enterras
docemente
como quem adormenta
o que é fatal
É a urze debaixo
e o fogo que acalenta
o peixe
que desliza no umbigo
piscina funda
na boca mais sedenta bordada a cuspo
na pele do umbigo
E se desdigo a febre
dos teus olhos
logo me entrego à febre
do teu ventre
que vai vencendo
as rosas – os escolhos
à roda dos joelhos, docemente.
Modo de amar – XV
(A boca – A rosa)
Entreabre-se a boca
na saliva da rosa
no raso da fenda
na fissura das pernas
Entreabre-se a rosa
na boca que descerra
no topo do corpo
a rosa entreaberta
E prolonga-se a haste
a língua na fissura
na boca da rosa
na caverna das pernas
que aí se entre-curva
se afunda
se perde
se entreabre a rosa
entre a boca
das pétalas
Maria Tereza Horta
PS.: ler ao som do Bolero de Ravel
Agora é diferente
Tenho o teu nome o teu cheiro
A minha roupa de repente
ficou com o teu cheiro
Agora estamos misturados
No meio de nós já não cabe o amor
Já não arranjamos
lugar para o amor
Já não arranjamos vagar
para o amor agora
isto vai devagar
isto agora demora
Manuel António Pina
Poesia Reunida
Devagar desce a encosta
rumo ao rio
Escolhe aquela hora
em que o sol exausto
abre uma fenda no horizonte
Mas não corras em direcção à costa
não te afastes desta margem
cujo nome do mar se apropriou
pois há lugares como este
onde o que há-de ser vaga
é ainda estrada de água
e sol desfeito
Que o olhar se perca antes
nesses campos
de um verde silencioso
entardecido
João Pedro Mésseder
“Gondomar em fundo”
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