Terça-feira, 30 de Setembro de 2008

CENTENÁRIO DO C.R.D. FÂNZERES: CONVITE

 

Vimos endereçar a todos os associados e  amigos do Centro Republicano e Democrático de Fânzeres, bem como aos demais democratas e republicanos, um CONVITE para participarem nos diferentes momentos da comemoração do 100º aniversário, do nascimento da nossa associação.

 

O Jantar “Centenário” realiza-se no próximo sábado, 04 de Outubro, antecedendo a Sessão Solene, pelas 20h, no Restaurante Choupal dos Melros, na Vila de Fânzeres, sendo o preço  de 20 €uros, por pessoa.

 

Marcações pelo telemóvel 96 945 4527 (Manuel Pacheco). Inscreva-se já.

 

Saudações republicanas e democráticas.

 

 

 

publicado por Manuel M. Oliveira às 18:22
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Segunda-feira, 29 de Setembro de 2008

'AUTO-REGULAÇÃO', DIZEM ELES

Os fiéis do Deus-mercado parecem ter descoberto de repente as virtudes do Estado Social, devidamente adaptado aos valores da religião do lucro a qualquer preço, e que, em vez de apoiar os pobres, subsidia os ricos. Já tem um Papa. Chama-se Henry Paulson e cabe-lhe a duvidosa glória de ser um dos inventores do capitalismo de casino que agora bateu no fundo provocando a crise financeira que abala a Terra Prometida e arredores.

 

Depois de 30 anos de especulador na Wall Street, Paulson chegou a secretário do Tesouro e é dele a feliz ideia de pagar com 700 mil milhões dos contribuintes as dívidas e "activos tóxicos" acumulados por empresas falidas, acrescidos de "compensações" milionárias aos gestores que as levaram à falência, assim salvando fortunas como a sua, calculada em 500 milhões de dólares, a maior parte em acções da também falida Goldman Sachs. No Estado Providência neoliberal, quem paga quer as crises quer as soluções das crises do mercado são sempre os contribuintes. Lá como cá, chamam eles a isso (meter os lucros ao bolso e cobrar ao Estado as perdas) "auto-regulação" do mercado.

 

Manuel A. Pina

in “JN”

 

publicado por Manuel M. Oliveira às 10:48
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Sábado, 27 de Setembro de 2008

VALENTIM COM COTAÇÃO EM BAIXA!

Valentim em baixa!

Valentim com a cotação em baixa!

Assim como a cotação das acções de capital estão a descer nas principais bolsas mundiais, também as acções políticas da Câmara de Gondomar estão a descer na cotação da bolsa da opinião pública, sendo o principal acionista; Valentim Loureiro, o mais prejudicado, evidenciando já sinais de pré-falência, sem que apareça alguém a injectar capital significativo de confiança nos negócios ambrosianos!


Realmente, Valentim Loureiro pôs Gondomar no mapa, mas nem sempre pelas melhores razões, sendo ele próprio um ponto negro de referência, por não ser exemplo de mais valia ética para o exercício dum cargo político, ao serviço da rez-pública!


Agora, saiu a notícia que a Câmara servia de banco ao vice de Valentim, para pagamentos ao Gondomar S.C., sendo este caso mais um a acrescentar, negativamente, ao rol de ilegalidades cometidas por quem devia ter um mínimo de ética? Será que Valentim virá, com a esperteza saloia, dizer que não sabia de nada? O seu vice não era apenas um seu pau mandado? Hoje mesmo, foi acusado formalmente de burla em negócio com lucro de três milhões!

Por falar em ética, se a tivessem, tanto o Presidente como o Vice, e outros, já se teriam demitido, e nem Valentim teria a desfaçatez, a lata, a pouca vergonha de anunciar que se vai recandidatar!

Mas, como esta gente não têm tem vergonha, vai recorrendo, recorrendo, recorrendo! Entretanto, vão estando nos cadeirões do poder, ganhando uns milhares mensais, e de recurso em recurso, lá vão vendendo o peixe de inocentes e enfiando o urso a muita a gente. Não falta quem o considere o Major um "santo" padroeiro da indústria dos electrodomésticos!

Porém, o preço do seu peixe está a cair na cotação lota e parece que já não arrota tanto a postas de pescada!

Espera-se que Gondomar consiga tirar esta espinha da garganta, o mais rápido possível!

Mas, com os Gondomarenses nunca se sabe! Talvez, por influência das sopas de nabos, já o Major estava metido na embrulhada do Apito Dourado, acusado de crime de abuso de poder na Câmara e em liberdade sob fiança, mas viu o seu poder reforçado nas últimas eleições!


Vamos lá ver se é disto que o Povo gosta; um presidente especialista em negócios ambrosianos, com lucros milionários da noite para o dia!
Claro que é tudo legal! Né?

Saia mais um recurso.

Afinal, o Major é homem cheio de recursos e de boa-vista!

 

Silvino Figueiredo

publicado por Manuel M. Oliveira às 19:44
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Quarta-feira, 17 de Setembro de 2008

O ARGUMENTO DA HONRA

A ética republicana iluminava as virtudes do carácter e a grandeza dos princípios. As revoluções, idealmente, não são, apenas, alterações económicas e substituições de regimes. Transportam a ideia feliz de modificar as mentalidades. Essa mistura de sonho e ingenuidade nunca se resolveu. A esperança no nascimento do "homem novo" não é exclusiva dos bolcheviques. O homem das revoluções jamais abandonou o ideal de alterar o curso da História e de modelar os seus semelhantes à imagem estremecida das suas aspirações.


É uma ambição desmedida? Melhor do que ninguém, respondeu Sebastião da Gama:

"Pelo sonho é que vamos

comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?

Partimos. Vamos. Somos."

A ética republicana combatia a sociedade do dinheiro, da superstição religiosa, da submissão, e pedia aos cidadãos que fossem instrumentos de liberdade. As "raízes vivas", de que falou Basílio Teles.


Fomos perdendo, sem sobressalto nem indignação, a matriz ética da República. De vez em quando, releio as páginas que narram os desassossegados dezasseis anos que durou o novo regime, obstinadamente defendido por muitos a quem se impunha a consciência do compromisso. Esses, entre o aplauso e o assobio, percorreram o caminho que vai do silêncio à perseguição, do exílio ao assassínio político. Morreram pobres. São os heróis de uma história que se dissipou, porque o fascismo impediu nos fosse contada, nas exactas dimensões das suas luzes e das suas sombras.


Relembrei estes episódios ao tomar conhecimento, pelo semanário Sol, de que Ramalho Eanes prescindira dos retroactivos a que tinha direito, relativos à reforma como general, nunca por ele recebidos. A importância ascende a um milhão e trezentos mil euros. É um assunto cujos contornos conformam uma pequena vindicta política. Em 1984, foi criada uma lei "impedindo que o vencimento de um presidente da República fosse acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência que aufiram do Estado." O chefe do Governo era Soares; o chefe do Estado, Ramalho Eanes, que, naturalmente, promulgou a lei.


O absurdo era escandaloso. Qualquer outro funcionário poderia somar reformas. Menos Eanes. Catorze anos depois, a discrepância foi corrigida. Propuseram ao ex- -presidente o recebimento dos retroactivos. Recusou. Eu não esperaria outra coisa deste homem, cujo carácter e probidade sobrelevam a calamidade moral que por aí se tornou comum. Ele reabilita a tradição de integridade de que, geralmente, a I República foi exemplo. Num país onde certas pensões de reforma são pornográficas, e os vencimentos de gestores" atingem o grau da afronta; onde súbitos enriquecimentos configuram uma afronta e a ganância criou o seu próprio vocabulário - a recusa de Eanes orgulha aqueles que ainda acreditam no argumento da honra.

 

Baptista-Bastos

in Diário de Notícias – 17/09/2008

 

publicado por Manuel M. Oliveira às 12:38
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Domingo, 14 de Setembro de 2008

SALDOS: BOTAS ABAIXO

 

 

 

publicado por Manuel M. Oliveira às 22:15
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NESTES ÚLTIMOS TEMPOS


Nestes últimos tempos é certo a esquerda fez erros
Caiu em desmandos confusões praticou injustiças

Mas que diremos da longa tenebrosa e perita
Degradação das coisas que a direita pratica?

Que diremos do lixo do seu luxo — de seu
Viscoso gozo da nata da vida — que diremos
De sua feroz ganância e fria possessão?

Que diremos de sua sábia e tácita injustiça
Que diremos de seus conluios e negócios
E do utilitário uso dos seus ócios?

Que diremos de suas máscaras álibis e pretextos
De suas fintas labirintos e contextos?

Nestes últimos tempos é certo a esquerda muita vez
Desfigurou as linhas do seu rosto

Mas que diremos da meticulosa eficaz expedita
Degradação da vida que a direita pratica?

 

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

publicado por Manuel M. Oliveira às 15:59
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Segunda-feira, 8 de Setembro de 2008

Menezes dixit

«O governo não tem resultados e a oposição não tem horizontes», afirmou Luís Filipe Menezes quebrando o silêncio, um dia após a actual líder dos socais-democratas ter quebrado o seu.

 

in SOL, 08/09/2008

 

publicado por Manuel M. Oliveira às 23:00
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CARTA DO PORTO DE LISBOA

o teu nome meu amor o teu nome amanhecia quando

num verso a lua num homem o silente beijar de um afecto

quando em minhas mãos as tuas quando em lisboa o mar

o mar

 

trazias os verdes gestos de quem tão brevemente como regressa

de forma tão breve acaba sempre por partir

os verdes e redondos gestos de um nome por exemplo de pássaro ave migrante

o curvo e disponível nome de um navio fazendo escala

em todos os portos do mundo em todos os homens um beijo

trazias os braços e o peito vastos como o mar que te mora

os braços e o peito como luzidias pérolas

como o madrugar frio das ondas os braços e o peito como o inaugurar

da possibilidade onírica desta minha terra

 

em lisboa acontecemos em lisboa acontecemos há tão distante tempo

meu amor

 

e quantas marés terão entretanto socorrido a azul largueza

de nossa ausência.

 

eterna noiva do mar

o nosso verbo tão demorado como contrário à permanência do homem no

seu exacto instante presente e eu sei meu amor eu sei que nesse tempo

o meu corpo e a minha palavra não foram outros senão o nosso corpo

e a nossa palavra não foram outros senão o incisivo inscrever de nosso desejo

no túmulo do mundo

que nesse tempo meus pés talharam a sua geométrica simultaneidade

que nesse tempo logrei surpreender minha própria imagem tatuada

como deslumbre nos vidros embaciados dos edifícios

alquímica aspiração dos homens

evidente palimpsesto de todas as efemeridades e

fechando agora os olhos tanto tanto tempo depois ainda regresso a essa praia

que se ergueu como éden na fresca sombra de tua boca

e ainda os vejo

meus paralelos passos sepultados no mais invejável dos silêncios sem que

neles a luz implique outro tempo senão o da sua tranquila e inominada espera

pelo teu cintilante regressar

e que os banhes como a maré

que os venhas recolher como a um pedaço de teu mar.

 

como tuas mãos me estenderam o vislumbrar de meu nome

e como também a cidade se me revelou pela tua voz qual fantástica ilha

de trezenzónio como se me iluminaram a partir de dentro os nomes das ruas apenas

pela dança de teu caminhar como toda uma nova lisboa se ergueu nas

palavras dos temíveis e derradeiros viajantes da noite da cidade

e como em suas palavras floresceu também a nova luminosidade que teus

cabelos nas avenidas dispunham como um oceânico e exorável ouro

ornato númen teus cabelos soltos como o sibilante dizer de uma canção

na mais remota língua dos homens e do aroma da tua voz o apreender

do alimento que incendeia nossas vidas

a dissidente língua de lord chandos

e recordo-te agora desta mesa de café junto do porto de lisboa

recordo o fim de tarde em que do texto irrompeste como um

solidário e apaixonante braço tomando-me no profundo

do sangue

meu amor

o teu nome amanhecia como último pássaro quando

num verso a lua num homem o singular beijar de um afecto

quando em minhas mãos as tuas quando em lisboa o mar

quando no silêncio de nossas noites todas as possíveis canções

toda a ciência das coisas celestes ali tão de feição nos lábios

tão de feição no aproximar dos sexos no aproximar do rosto sobre a página e

tantas vezes o rosto entre as mãos

tantas vezes a mesa sozinha a cadeira sozinha na obliqua

posição de quem espera espera espera

uma espera além da construção do devir

os olhos baixos em torno de todo o espaço conferindo a implacável simetria

do abandono

tantas vezes os barcos tantas vezes as vozes esvaziando-se lentamente

do seu poder enunciativo

e nesta mesa de café morrendo morrendo.

 

recordo o fim de tarde em que tua salgadiça luz aconteceu

diante do espelho em que já me inscrevera e como tão doce

foi teu corpo dançando no meu minha boca dançando na tua

ali na sempre leviana qualidade da página ali naquela mesa de café

ali naquela lisboa de que hoje serenamente me despojo

para que no dia em nada mais senão o meu corpo me reste

possa também eu me fazer ao mar e partir no encalce das estrelas.

 

o teu nome meu amor o teu nome eterna noiva do mar na manhã em que partiste

antes de meus olhos fechados e como te esperei nesse vigilante lusco-fusco

entre todos os grandes dias e todas as grandes noites e como te esperei

nessa tua praia essa praia que acontece sempre que em um homem

a nua mão de outrem se desvenda

e esses grandes dias e essas grandes noites aperfeiçoando minuciosamente

os possíveis rumos da grande cidade

mas definitivo era o teu silêncio e definitivo o cerrar de minhas pálpebras

 

sozinho enfrentaria a minha última grande noite.

 

e recordo-te agora desta mesa de café junto do porto de lisboa

recordo o fim de tarde em que do texto o distinto marulhar de tua distante voz

foi a perfeita casa de todas as minhas palavras a perfeita medida

de meu corpo a exacta cor de minha pele

em ti aconteci como um homem dotado de um nome

um pedaço de carne e sonho

e meu amor ergueste-me uma cidade que ao teu toque

é já uma outra cidade um rio que é já um incomensurável mar

somente pelo perfume de tua aura arredondada pelas ondas

tua boca de maresia tua boca de um país distante

talvez perdido no mais fundo dos oceanos

 

um país para sempre gravado a sal na recordação de teu nome meu amor

pelas ruas desta lisboa que caminhámos juntos

bebendo dos passos um do outro a superior magia

de um homem resgatado em si próprio

 

volto todos os dias ao anoitecer a essa tua praia

 

a cidade repousa

o céu abandonado em um alvo silêncio

 

e é teu nome que chamo

o teu nome meu amor

 

e o teu nome eternamente amanhece quando

num verso a lua de todos os poemas e de todas as palavras

em meu peito o silente beijar de todas as plantas todos os animais

todos os grandes dias e todas as grandes noites

quando em minhas mãos o adivinhar das tuas

e quando em lisboa o mar

o mar

 

boa noite

regressar-te-ei.

 

Hugo Manuel Milhanas Machado

publicado por Manuel M. Oliveira às 16:08
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Segunda-feira, 1 de Setembro de 2008

ACHO TÃO NATURAL QUE NÃO SE PENSE

Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa ...

 

Alberto Caeiro

 

publicado por Manuel M. Oliveira às 16:33
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ESTE É O POEMA DO AMOR.

Do amor tal qual se fala, do amor sem mestre.

Do amor.
Do amor.
Do amor.

Este é o poema do amor.

Do amor das fachadas dos prédios e dos recipientes do lixo.
Do amor das galinha, dos gatos e dos cães, e de toda a espécie de bicho.
Do amor.
Do amor.
Do amor.

Este é o poema do amor.

Do amor das soleiras das portas
E das varandas que estão por cima das portas
Com begónias e avencas plantadas em tachos e terrinas.
Do amor das janelas sem cortinas
Ou de cortinas sujas e tortas.
 
Este é o poema do amor.

Do amor das pedras brancas do passeio
Com pedrinhas pretas a enfeitá-lo paro os olhos se entreterem,
E as ervas teimosas a nascerem de permeio
E os homens de cócoras a raparem nas e elas por outro lado a crescerem.
Do amor das cadeiras cá fora em redor das mesas
Com as chávenas de café em cima e o toldo de riscas encarnadas.
Do amor das lojas abertas, com muitos fregueses e freguesas
A entrarem e a saírem, e as pessoas todas muito malcriadas.

Este é o poema do amor.

Do amor do sol e do luar,
Do frio e do calor,
Das arvores e do mar,
Da brisa e da tormenta,
Da chuva violenta,
Da luz e da cor.

Do amor do ar que circula
E varre os caminhos
E faz remoinhos
E bate no rosto e fere e estimula.
Do amor de ser distraído e pisar as pessoas graves,
Do amor de amar sem lei nem compromisso,
Do amor de olhar de lado como fazem as aves,
Do amor de ir, e voltar, e tornar a ir, e ninguém ter nada com isso.
Do amor de tudo quanto é livre, de tudo quanto mexe e esbraceja,
Que salta, que voa, que vibra e lateja.
Das fitas ao vento,
Dos barcos pintados,
Das frutas, dos cromos, das caixas de tintas, dos supermercados.

Este é o poema do amor.
 
O poema que o poeta propositadamente escreveu
Só para falar de amor,
De amor,
De amor,
De amor,
Para repetir muitas vezes a palavra amor,
Amor,
Amor,
Amor.
Para que um dia, quando o Cérebro Electrónico
Contar as palavras que o poeta escreveu,
Tantos que,
Tantos se,
Tantos lhe,
Tantos tu,
Tantos ela,
Tantos eu,
Conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu
Foi amor,
Amor,
Amor.
 
Este é o poema do amor.

António Gedeão

publicado por Manuel M. Oliveira às 16:32
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ADEUS

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

 

Eugénio de Andrade

 

publicado por Manuel M. Oliveira às 16:32
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ADEUS

É um adeus...

Não vale a pena sofismar a hora!

É tarde nos meus olhos e nos teus...

Agora,

O remédio é partir discretamente,

Sem palavras,

Sem lágrimas,

Sem gestos.

De que servem lamentos e protestos

Contra o destino?

Cego assassino

A que nenhum poder

Limita a crueldade,

Só o pode vencer a humanidade

Da nossa lucidez desencantada.

Antes da iniquidade

Consumada,

Um poema de líquido pudor,

Um sorriso de amor,

E mais nada.

 

Miguel Torga

 

publicado por Manuel M. Oliveira às 16:31
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"A vida é uma pedra de amolar: ela vos desgasta ou afia, conforme o metal de que sois feitos."

Bernard Shaw

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