"Há quem vislumbre sinais do (princípio do) fim da crise em que temos vivido. Pelo contrário, eu só vejo razões para dizer que a crise está para durar. Já nem falo do enorme potencial de instabilidade que representa a profunda ligação financeira entre EUA e China. Concentro-me apenas na Europa.
No início de Maio, Wolfgang Münchau chamava a atenção para a dimensão dos prejuízos não assumidos pelos bancos alemães que, segundo estimativas do regulador financeiro (Bafin) seriam de “cerca de um terço do produto interno bruto da Alemanha.” Recordava também que, após uma década de políticas falhadas, o Japão só conseguiu travar a crise quando obrigou os bancos a assumir os seus prejuízos e a aceitar a entrada de capitais públicos.
Entretanto, através de auditorias aos principais bancos, e exercícios de simulação da evolução das suas contas em cenários desfavoráveis (ao que parece, não muito), os EUA conseguiram ter uma ideia aproximada do estado do seu sistema financeiro. Vários economistas de renome discordam da solução encontrada. Porém, uma coisa é certa: a administração Obama enfrenta o problema, ainda que com as limitações ideológicas que conhecemos.
Pelo contrário, do lado de cá do Atlântico onde o crédito bancário tem mais peso no financiamento das empresas, vemos que: a economia da UE continua a degradar-se, com destaque para a Alemanha e para o Reino Unido, este porventura a ter de recorrer ao FMI daqui a uns meses; continuada degradação da situação económica e financeira no Leste da Europa com ramificações à banca da Zona Euro; tomada de posição da chanceler Angela Merkel contra a participação menos ortodoxa do Banco Central Europeu no combate à crise; complacência das autoridades nacionais e europeias face à situação do sistema financeiro no que toca aos ‘activos tóxicos’. Quanto a este último ponto, no início de Junho alguns economistas franceses e alemães assinaram no Financial Times um artigo em que apelavam a uma intervenção rápida e enérgica das autoridades para sanear o sistema bancário europeu cuja situação global qualificam de “disfuncional”.
Ora acontece que Angela Merkel tem boas perspectivas de se manter no poder por mais uns anos. Segundo o ex-ministro dos negócios estrangeiros Joschka Fischer, “a UE é cada vez mais vista [pelos Alemães] como enquadramento e condição de partida para a afirmação dos interesses nacionais, e não como uma finalidade em si mesma.” Embora o ex-ministro argumente que esse caminho é errado e não serve os genuínos interesses da Alemanha, o certo é que a maioria dos seus concidadãos parecem estar convencidos do contrário.
Num contexto de grande recessão que parece ter abrandado mas tem todas as condições para voltar a acelerar, a manutenção no (ou ascensão ao) poder em vários países da UE de forças políticas conservadoras, e o crescimento eleitoral de partidos de extrema direita, significa para mim que há nuvens muito negras no horizonte. Mesmo com legitimidade eleitoral, não me parece que as famílias políticas que geraram esta crise estejam em condições intelectuais e morais para lhe pôr cobro.
Não menos importante, essas nuvens negras também significam que as forças políticas de esquerda não têm sido capazes de oferecer uma alternativa credível, uma alternativa que dê um horizonte de sentido e esperança às sociedades europeias assustadas com o desemprego e a crise financeira, dos seus bancos e dos seus estados. Para o futuro da Europa é decisivo que estas forças políticas procurem empenhadamente perceber onde estão a falhar e se disponham a fazer as indispensáveis (ainda que dolorosas) rupturas. É que o futuro da Europa também depende da forma como as esquerdas lerem os seus resultados eleitorais.
Numa grande crise, o futuro está mais aberto do que nunca, para o melhor e também para o pior. "
Jorge Bateira
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