Detesto que discutam as minhas ideias, mas adoro discutir as ideias dos outros. Não é por nada, mas apenas porque estrategicamente aconselhável. Impondo as nossas ideias como verdades absolutas, resta mais espaço para partilhar as dos outros, dando-lhes alguns retoques da nossa larva, até as transformar no que realmente pensamos. Aumentamos, assim, o nosso património ideológico, propagando-o ao mesmo tempo. Claro que nem sempre é fácil convencer os outros e muito menos levá-los a aceitar as nossas ideias. O fundamental é fazê-los pensar que as ideias que lhes incutimos são criação própria, fruto de mentes privilegiadas.
Não se combatem as ideias com que não concordamos. Aceitam-se sem discussão. Dando razão ao interlocutor, minamos, aos poucos, o raciocínio. As incertezas surgem e ele próprio, sem se aperceber, tenta reafirmar a sua tese, buscando outros caminhos. Acaba por reformulá-la, triunfante com as novas conclusões, sem refutação possível. Só que a ideia acabada está longe da inicial. Agora é a nossa, sugerida na concordância discordante deste processo dinâmico de comunicação enviesada. E os mais teimosos e convencidos acabam por ser as presas mais fáceis.
É a teoria da manipulação. Usa-se na política, no marketing, na vida quotidiana. A sentimental é, por vezes, violenta. Leva a pender apenas para um dos lados, com uma ou outra concessão, anulando o previsível argumento-queixa: “Acabo sempre por fazer o que tu queres!”. Um deles tem uma personalidade forte, diz-se. O que equivale a não aceitar como viável uma relação de personalidades dominantes. Não é verdadeira a afirmação, tal como não é possível a submissão total. O facto de serem observáveis estes tipos de relação, não leva a aceitá-los como regra.
O manipulador, nalguns casos, nem sabe que o é. Tece a argumentação inconscientemente, mantendo no centro da questão que aceita (ou deve aceitar) a ideia do outro, até porque é razoável, lógica ou exprime um desejo legítimo e realizável. Mas, porque não lhe convém ou, simplesmente, não lhe apetece, sem destruir as razões, substitui a vontade alheia por sucedâneos, com direito a escolha, fazendo assim crer que a decisão tomada foi livre e espontânea, de entre um leque de opções, atenciosamente apenas sugeridas.
Manipular é quase uma arte. Desde a pura vigarice até ao encantamento pessoal. Exige uma boa dose de imaginação e, sobretudo, de autocontrolo. O melhor manipulador é o que se convence de que os resultados a obter não são em razão da sua própria vontade, mas em função do que julga melhor para a outra parte. É uma espécie de paternalismo, que ainda apresenta duas vantagens: o manipulador fica bem consigo mesmo e o manipulado grato pelo cuidado.
É por isso que não gosto que discutam as minhas ideias. Assim, vou sentido que, boas ou más, sempre são minhas. Por enquanto...
Ludovico
in http://www.avelinorosa.com/
» Nós também somos da esque...
» JOSÉ SÓCRATES EM ARRUADA ...
» ...
» ...
» ...
» ...
» ...
» ...
» ...
» Aldeia
» Arrastão
» Associação Desenv Integrado Valbom
» Citador
» DesNORTE
» Indeks
» Moriana
» Murcon
» Odisseus
» Poemar
» Pópulo
» Só Maria